Foto de Socialismo ou Barbárie

Histórico do grupo Socialismo ou Barbárie

O grupo Socialismo ou Barbárie (S ou B) existiu de 1948 a 1965, e adotou esse nome em homenagem a Rosa Luxemburgo (“Socialismo ou Barbárie!” era o lema dela). O grupo surgiu de uma ala trotskista ultra-radical do Partido Comunista Internacionalista francês, e seus membros eram principalmente pessoas que tinham se desiludido com o trotskismo oficial e tradicional.

Havia também muitos bordiguistas, seguidores de Amadeo Bordiga, fundador do Partido Comunista Italiano que, a exemplo de Rosa Luxemburgo, não aceitava a participação de líderes comunistas em eleições burguesas, considerava o comunismo soviético falso (na verdade um capitalismo de Estado) e lutava ao mesmo tempo contra o fascismo e contra o antifascismo, considerando-os como duas faces da mesma moeda.
Essas pessoas se uniram a alguns anarquistas e passaram a adotar propostas cada vez mais próximas do anarquismo, supervalorizando a ideia de Rosa Luxemburgo de uma revolução feita de baixo para cima, até chegarem à defesa da organização da sociedade na forma de autogestão em todos os níveis.

O grupo criou uma revista com o mesmo nome (Socialismo ou Barbárie), e passou a declarar também que “A sociedade mais justa não é aquela que encontrou de uma vez para sempre as leis mais justas: a sociedade mais justa é aquela em que a questão da justiça está sempre em discussão” — declaração que significava uma crítica agressiva contra a ditadura stalinista, que afirmava ter “as leis mais justas”.

A principal marca da revista Socialismo ou Barbárie era justamente a crítica constante, profunda e meticulosa contra o regime stalinista — pode-se dizer, na verdade, que o conjunto de toda a revista oferece a crítica mais completa, profunda, radical e detalhada já feita até hoje contra regime stalinista, em todas as suas facetas. Nenhuma outra crítica do regime stalinista, feita por capitalistas, por anarquistas ou pelos próprios marxistas, conseguiu ir tão longe nisto.

Os principais articuladores do grupo foram Cornélius Castoriadis, que muitas vezes escrevia usando pseudônimos, e Claude Lefort. Além deles se destacavam também Edgar Morin e Jean-François Lyotard. Em 1968 os quatro publicaram, junto a outros autores, o livro A Brecha, em que analisavam com otimismo o Movimento de 68 que estava em curso, realizado pelos estudantes de diversas partes do mundo, principalmente França, Estados Unidos e Alemanha.

Os principais fundadores da revista Socialismo ou Barbárie e do grupo de mesmo nome mais tarde se separaram e se tornaram famosos, indo cada um numa direção, mas todos sempre combatendo contra formas de dogmatismo e de autoritarismo.

Claude Lefort era um historiador da filosofia. Em 1972 (depois de encerrado o grupo Socialismo ou Barbárie) viria a escrever um dos mais profundos estudos sobre Maquiavel já escritos: Maquiavel, le travail de l’oeuvre (Maquiavel, o trabalho da obra) — mostrando o lado republicano tão pouco estudado desse pensador político. Mais tarde lefort se destacaria também como estudioso da democracia direta de Atenas.

Castoriadis mais tarde (em 1974) viria a se formar em Psicanálise e a fundar o movimento Autonomista, que mantendo a busca da revolução, retoma com novos fundamentos a ideia de autogestão em todos os níveis, incluindo nesses fundamentos influências psicanalíticas.

Edgar Morin viria a se destacar mundialmente na filosofia da educação, com sua teoria da complexidade. Começou a escrever em 1973 uma extensíssima obra (de 6 volumes) sobre teoria do conhecimento e filosofia da ciência, discutindo entre outras coisas a teoria de Thomas Kuhn, para servir de base para sua teoria pedagógica da complexidade. Levou aproximadamente três décadas e meia para terminar essa obra. Morin é na verdade o nome-código que usava quando participou como tenente na Resistência Francesa contra a invasão nazista — adotou e manteve esse nome pelo resto da vida.

Jean-François Lyotard se tornaria mundialmente famoso ao criar a polêmica tese de que estaríamos vivendo no fim da História, no fim de todas as grandes revoluções e transformações históricas, numa era “pós-moderna” (seu livro A condição pós-moderna é de 1979) em que elementos de todos os períodos históricos da humanidade tenderiam a conviver juntos — o que ecoa à distância a tese de Rosa Luxemburgo de que na economia o capitalismo convive com formas de produção típicas de outras épocas. Mas os estudos de Lyotard avançaram principalmente na direção da filosofia da arte, focalizando principalmente a arquitetura.